Ato realizado na última sexta-feira (15) apontou danos causados por parques eólicos e solares na Caatinga e reafirmou a agroecologia como saída para a crise climática
Por: Bruna Provazi
Crédito das fotos: Arnaldo Sete / Projeto Colabora.
Cerca de 5 mil mulheres saíram às ruas na cidade de Areial (PB), na última sexta-feira (15), na 15ª edição da Marcha pela Vida das Mulheres e pela Agroecologia. A manifestação é organizada há 15 anos pelo Movimento de Mulheres do Polo da Borborema e, neste ano, teve como principal objetivo reafirmar a importância do bioma da Caatinga para o enfrentamento da emergência climática.
A data foi escolhida por ser véspera do Dia Nacional de Conscientização sobre as Mudanças Climáticas, comemorado em 16 de março. Com o tema “Mulheres em defesa do território: Caatinga viva, floresta em pé”, as agricultoras da Borborema Agroecológica e de outras regiões da Paraíba e do Nordeste denunciaram a devastação da parte restante do bioma para construção de empreendimentos de energia renovável.
O MapBiomas detectou pela primeira vez, em 2022, a produção de energia renovável como uma das atividades responsáveis pelo desmatamento. Uma área equivalente a quatro mil campos de futebol ou quatro mil hectares teve a vegetação derrubada para a instalação de placas solares e torres eólicas.
“Não iremos aceitar que interesses privados venham se apropriar das nossas terras e dos nossos territórios, dos nossos ventos, ameaçando a nossa biodiversidade, empobrecendo os nossos povos e impedindo a terra de gerar alimento, de gerar vida. Não iremos aceitar que interesses privados destruam os nossos sonhos e roubem os nossos sonhos. Os parques eólicos vêm para tirar o nosso sossego, nossa saúde e para tirar as nossas terras. E estamos aqui para denunciar os danos devastadores desses grandes empreendimentos de produção de energia ao meio ambiente, à agricultura e, sobretudo, à vida de nós mulheres. Essa marcha traz uma bandeira de luta e enfrentamento, mas também de afirmação da agroecologia como nosso projeto de sociedade. Por isso anunciamos que queremos, sim, produção de energias renováveis, mas uma produção descentralizada, que inclua e beneficie as populações locais. Não podemos permitir que as empresas cheguem da maneira como chegam, sem dialogar, sem construir, marginalizando a nossa vida, desrespeitando as comunidades, desrespeitando a cultura e a sabedoria das nossas famílias agricultoras e destruindo a natureza, que é nossa aliada. A ideia de progresso trazida por essas empresas escondem os grandes danos trazidos por esses grupos, mas os ventos são um bem da natureza, e nós vamos fazer deles uma ventania em busca da justiça social e ambiental, na defesa da agricultura e da nossa mãe terra”, afirmou Mazé Morais, Secretária de Mulheres da CONTAG, durante a marcha.
Foto: Arnaldo Sete / Projeto Colabora.
Na carta política divulgada pela Marcha das Mulheres pela Agroecologia, elas afirmam:
“Aprendemos com o umbuzeiro ou com a barriguda a necessidade de guardamos a água da chuva no solo ou em reservatórios para os tempos de estiagem; Aprendemos a guardar nossas forragens para quando as plantas perderem suas folhas, selecionamos e guardamos uma diversidade de sementes adaptadas para responder no tempo e na quantidade certa da chuva; Com os animais descobrimos o hábito de se esconder do sol forte durante o dia e encontrar a melhor hora de ir para o roçado. A Caatinga é uma escola, ela nos ensina todos os dias. A Caatinga é exemplo de resistência, de sabedoria, de saúde, resumem as mulheres. Talvez, seja justamente a aprendizagem das adaptações evolutivas e comportamentais dos seres vivos desse bioma sobrevivente às condições climáticas o maior legado da Caatinga aos efeitos globais das mudanças climáticas”.