Birol: Brasil deve levar transição justa e bioenergia para o G20

Em visita ao Brasil, diretor executivo da IEA defende que G20 busque novos mercados para biocombustíveis

 

Fonte: epbr
Por: Nayara Machado

Foto: Diretor executivo da Agência Internacional de Energia (IEA), Fatih Birol (Crédito: Ricardo Botelho/MME).

 

O diretor executivo da Agência Internacional de Energia (IEA, em inglês), Fatih Birol, pediu ao governo brasileiro, em 31 de janeiro, que ajude a diplomacia internacional nos esforços para uma transição energética justa.

Em visita ao Brasil, o diretor da IEA assinou um plano de trabalho conjunto com o Ministério de Minas e Energia (MME), para acelerar o movimento em direção a fontes de energia mais limpa e universalização do acesso.

Para o diretor da IEA, o Brasil está entrando em um momento sem precedentes na sua história política e econômica nos próximos dois anos, período em que assume a presidência do G20 e sedia a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30).

Uma oportunidade para alavancar agendas de interesse de países emergentes, especialmente do chamado Sul global, e pressionar para que países ricos assumam suas responsabilidades históricas sobre as emissões de gases de efeito estufa.

“A atenção internacional estará totalmente no Brasil. Acredito que nessa questão de transição para energias limpas nenhum outro país se encaixa tão bem. Espero que o Brasil seja bem sucedido na liderança do mundo, nos próximos dois anos, em direção a transição energética limpa, mas também justa e inclusiva”, discursou.

A IEA vê o pico da demanda por combustíveis fósseis ocorrendo ainda nesta década, mas alerta que iniciativas para aumentar o acesso a energia caminham a passos lentos – longe de acompanhar o ritmo de instalações renováveis.

 

Foco em biocombustíveis

Durante o evento no MME, Birol apresentou algumas sugestões para o Brasil enfatizar nas discussões sobre energia do G20, ao longo da sua presidência.

Além da defesa por uma transição energética justa e inclusiva, destacou que o papel da bioenergia na transição energética é subestimado e disse que o Brasil pode ajudar a trazer os biocombustíveis para os holofotes.

“No consumo total de energia renovável, 52% é bioenergia, mas não tem o reconhecimento que merece. Minha sugestão para o Brasil é: façam da bioenergia uma peça-chave. O G20 deveria identificar e criar novos mercados para os biocombustíveis”, defendeu.

A IEA estima que a demanda por biocombustíveis deve crescer cerca de 30% entre 2023 e 2028, em relação aos últimos cinco anos, com diesel verde e etanol respondendo por dois terços do consumo global. Biodiesel e combustível sustentável de aviação (SAF, em inglês) representam a outra parcela.

A maior parte desse aumento de demanda deve vir de economias emergentes, com destaque para o Brasil, Indonésia e Índia, que contam com o combo: políticas para biocombustíveis, demanda no setor de transportes e oferta de matéria prima. Etanol e biodiesel lideram a expansão.

Embora países ricos como Estados Unidos, Canadá e Japão, além da União Europeia, também estejam implementando políticas de descarbonização dos transportes, a eletrificação está ganhando esses mercados. Neles, diesel verde e SAF é que devem alavancar a demanda por biocombustíveis.

Combustível do futuro

Em março deste ano, o Brasil elevará o percentual de biodiesel misturado ao diesel de petróleo dos atuais 12% para 14%. O cronograma do governo prevê ainda que, em 2025, a mistura chegue a 15%.

No etanol, além da mistura de 27% na gasolina, o país é referência nos veículos flex, que dão ao consumidor a possibilidade de abastecer tanto com gasolina quanto com o biocombustível.

A expansão da mistura desses dois combustíveis renováveis está em discussão no Congresso Nacional, no projeto de lei que recebeu o nome de Combustível do Futuro, por inaugurar mandatos para SAF e diesel verde, além de trazer um marco legal para a captura de carbono.

A aprovação do PL é uma das grandes apostas do governo federal para estabelecer aqui uma nova indústria: a do biorrefino. Faz parte também da política lançada pelo Ministério da Indústria, Comércio e Serviços na última semana.

“Teremos SAF, diesel verde, etanol de segunda geração. As políticas públicas que estamos implementando serão a mola para impulsionar a economia verde no Brasil e no mundo”, comentou o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, em 31 de janeiro.

Durante a assinatura da cooperação com a IEA, Silveira defendeu a monetização de produtos verdes pelos países industrializados, para que economias emergentes possam se desenvolver, aproveitando seus recursos e gerando empregos.

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