Financiamento climático foi tema central das discussões
Escrito por: Bruna Provazi e Táli Pires de Almeida
Foto de destaque: Protesto durante a Conferência do Clima em Bonn. Crédito: Táli Pires de Almeida/CUT.
Lideranças internacionais e movimentos sociais estiveram reunidos entre os dias 3 e 13 de junho, na cidade de Bonn, na Alemanha, para a Conferência sobre Mudanças do Clima. O encontro ocorreu como parte das atividades de preparação para a COP 29 (29ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima), que será realizada em novembro deste ano, no Azerbaijão.
De onde sairão os recursos para impedir que mais catástrofes aconteçam, para construir alternativas e para proteger comunidades e territórios vítimas das tragédias? Esse foi o tema principal das negociações ocorridas na Conferência de Bonn, cujas propostas giraram em torno de créditos de carbono e gastos militares, em sua maior parte.
Afinal, quem vai pagar pela crise climática?
No entanto, movimentos sociais têm questionado esse conceito de financiamento climático. Uma vez que as populações dos países do Sul Global serão as mais afetadas pelas emissões de gás carbônico causadas pelos países do Norte, é justo que a classe trabalhadora e as comunidades mais pobres e vulneráveis paguem por essa crise da qual não são responsáveis?
Assim, a CUT, a CSA, a CSI e outros movimentos se somaram às vozes internacionais que demandam iniciativas concretas dos países acerca do financiamento climático, visto que as catástrofes já estão acontecendo e as ações de mitigação internacional têm se mostrado insuficientes.
Na COP de 2009, realizada em Copenhague, na Dinamarca, foi definido que um montante de US$100 bilhões anuais deveria ser utilizado para o financiamento. Entretanto, a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) concluiu, em 2022, que essa meta não foi atingida, tampouco a iniciativa alcançou os territórios onde era mais necessário.
Armadilhas verdes
Neste contexto, a CUT avalia como positivo o posicionamento do Brasil, pois, conforme defendido pela Presidência, é necessária uma reparação histórica por parte dos países do Norte global. No entanto, é preciso garantir que essa reparação se reflita em ações de combate às desigualdades estruturais, com projetos de mitigação e adaptação, e não por meio de empréstimos, os quais geram mais endividamento aos países do Sul, conforme já vem ocorrendo.
Por outro lado, a CUT defende que é preciso alertar a população para as armadilhas das soluções em torno do “mercado de carbono”.
“A mera compra de pedaços de floresta não pode significar uma autorização ou uma suposta compensação para que os países do Norte continuem a emitir gás carbônico. A floresta precisa continuar de pé, seus povos e comunidades precisam de proteção e as emissões de carbono precisam ser reduzidas pelos verdadeiros grandes emissores”, afirma Daniel Gaio, Secretário de Meio Ambiente da CUT.
Por meio do Programa de Trabalho para a Transição Justa (JTWP), organizações da sociedade civil e sindicatos têm atuado no sentido de dar maior concretude ao plano e de trazer alternativas para a classe trabalhadora. Porém, conforme observado na Conferência de Bonn, ainda falta maior comprometimento por parte dos países do Norte Global para definir e quantificar o financiamento climático. Por fim, a lentidão e os entraves nas discussões colocam o mundo todo distante da meta de reduzir o aquecimento.