Nações ricas faturam bilhões de dólares com apoio a países em desenvolvimento. Reconstrução do Rio Grande do Sul está em disputa.
Dia Global de Ação pela Justiça Climática nas Filipinas, em 2023.
Crédito da imagem: REUTERS/Lisa Marie David.
Neste 5 de junho, Dia Mundial do Meio Ambiente, a agenda internacional está voltada para as disputas em torno do financiamento para o combate à crise climática. Em Bonn, na Alemanha, acontece a chamada Pré-Conferência do Clima, um primeiro passo para a definição de como deve ser esse financiamento. Existe a expectativa de que os países ricos cumpram o compromisso de entregar o valor acordado, assim como reduzirem as emissões de carbono. No entanto, é fundamental garantir que os países em desenvolvimento não saiam endividados desse acordo.
Segundo a agência de notícias Reuters, países ricos enviaram financiamento climático para o mundo em desenvolvimento nos últimos anos com taxas de juros ou condições que beneficiaram os credores. Isso significa que nações como Japão, França, Alemanha e EUA estão lucrando bilhões de dólares através de programas destinados a ajudar os países mais pobres a lidar com as mudanças climáticas.
Os países ricos emprestaram pelo menos US$ 18 bilhões a taxas de mercado e exigiram que os beneficiários contratassem empresas de seus próprios países. Além disso, foram identificados US$ 10,6 bilhões em doações que também impunham condições semelhantes. A análise foi feita pela Reuters a partir de dados da ONU e da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico.
Isso contradiz o conceito amplamente aceito de que países ricos deveriam compensar os mais pobres pela poluição de longo prazo produzida por eles, a qual é identificada como uma das responsáveis pelas mudanças climáticas.
“Os fundos de financiamento voltados ao meio ambiente não devem ser tratados como negócios, não podemos aceitar que a natureza e os bens comuns sejam tratados como mercadoria”, afirma Daniel Gaio, Secretário de Meio Ambiente da CUT Nacional.
Portanto, para a CUT, os responsáveis pela crise climática e pelas altas emissões de carbono no mundo têm o dever de contribuir para a redução das emissões com políticas concretas e mensuráveis. Países ricos, gestores, empresas e organizações precisam atuar de forma concreta para promover um mundo sustentável.
Quem vai lucrar com a crise climática no Brasil?
Diante da tragédia climática ocorrida no Rio Grande do Sul, desde o último mês, observamos as disputas em torno da “gestão do desastre”, sobretudo porque 2024 representa um ano eleitoral. Com verbas bilionárias destinadas pelos governos federal e estadual para a crise, é preciso se atentar à condução da reconstrução do estado gaúcho.
Segundo matéria publicada no portal Brasil de Fato, o chamado “capitalismo de desastre” já se manifesta em Porto Alegre, conforme análise de Victor Marchezini, sociólogo e professor do Centro de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden). Esse termo foi cunhado pela jornalista canadense Naomi Klein no livro “A doutrina do choque” para fazer referência a gestores públicos e privados que se utilizam de experiências de choque para emplacarem negócios que, em situações de normalidade, não seriam possíveis.
O Brasil de Fato revela que esse modelo já se faz presente no Rio Grande do Sul, a exemplo da contratação, pelo governo de Eduardo Leite (PSDB), de empresas estadunidenses de consultoria, como Alvarez & Marsal (A&M) e Mckinsey. Isso representaria, para além do benefício a interesses privados, uma imposição da lógica de mercado na reconstrução das cidades, como afirma Marchezini.
“É por isso que estamos atentos a Bonn, mas também ao Rio Grande do Sul. Não podemos permitir que as mesmas empresas e gestores cujo modo de se relacionar com a natureza e o meio ambiente causou a catástrofe sejam os condutores da reconstrução. É preciso garantir que a oferta de recursos do governo federal seja utilizada em prol da população atingida, e não para gerar lucro”, afirma Rosalina Amorim, Secretária Nacional de Relação com os Movimentos Sociais da CUT.
Esse é um dos temas que será debatido na 6ª Conferência Nacional das Cidades, prevista para 2025. A Conferência é promovida pelo Ministério das Cidades e pelo Conselho das Cidades e busca retomar a participação social nas políticas públicas de desenvolvimento urbano, habitação, territórios periféricos, mobilidade urbana e saneamento básico.