COP 26 será realizada no Reino Unido no fim do mês. Governo brasileiro tentará aumento de financiamento para políticas de proteção ambiental que estão sendo desmontadas com Bolsonaro
A 26ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP 26), está marcada para 31 de outubro em Glasgow, na Escócia. O encontro reunirá 197 países que discutirão formas de frear o aquecimento climático do globo.
O Brasil chegará ao encontro com a pretensão de conseguir mais dinheiro de países desenvolvidos para financiar a transição climática e, para isso, deverá apresentar dados mentirosos sobre proteção ambiental no país.
Em declarações recentes, o ministro do Meio Ambiente, Joaquim Leite, indica que é isso mesmo que será feito. De acordo com ele, o desafio será apresentar um Brasil ‘real’, que cuida de suas florestas e faz trabalho de sustentabilidade.
“O Brasil chegará à COP 26, desacreditado”, afirma o secretário de Meio Ambiente da CUT, Daniel Gaio, ressaltando que a realidade do Brasil governado por Jair Bolsonaro (ex-PSL) é o oposto e o mundo sabe disso.
Mesmo assim, completa, o presidente não se constrangeu em dizer no discurso na abertura da 76ª Conferência das Nações Unidas, em 22 de setembro, que o Brasil é um exemplo de política de preservação ambiental.
Dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) mostram que dois dos piores anos da história do desmatamento da Amazônia estão na gestão Bolsonaro. Somente de agosto do ano passado a julho deste ano foram 8.712 Km². Em 2020, no mesmo período foram 9.216 Km², 71,4% a mais que em 2016.
As políticas ambientais brasileiras têm sido denunciadas internacionalmente e, ao contrário do que diz o governo, o Brasil atua para destruir os mecanismos existentes de política ambiental, que combatem o desmatamento e protegem o meio ambiente como um todo, diz Daniel Gaio.
“Para o Brasil conseguir reduzir suas emissões, precisa combater o desmatamento. Porém, o governo Bolsonaro atua para minar este compromisso, por exemplo através de cortes orçamentários e diminuição da fiscalização”, explica o dirigente.
A flexibilização de leis e redução de multas ambientais é outro problema, pois facilita o processo predatório de nosso meio ambiente, prossegue Daniel. “Autuações e multas são, inclusive, colocadas como obstáculo para negócios no país por parte do Ministério da Economia”.
O desafio real, na COP 26, de acordo com o secretário de Meio Ambiente da CUT, será inserir os movimentos sociais no debate sobre soluções para conter as mudanças climáticas no mundo.
“A COP 26 será desigual por causa dos efeitos da pandemia que impedem uma ampla participação de movimentos e organizações da sociedade civil”, lamenta Daniel.
Uma preocupação, ele diz, é que a Conferência poderá ser palco de decisões que beneficiem o mercado e não apresentem soluções reais à crise climática, e com olhar voltado aos trabalhadores.
A CUT fará parte da delegação sindical da Confederação Sindical Internacional (CSI) para, justamente, levar a agenda de luta da classe trabalhadora e denunciar as políticas – econômica, social e ambiental – do governo Bolsonaro, que impactam negativamente na vida de milhões de brasileiros.
Futuro incerto
Um relatório elaborado pelo Painel Intergovernamental Sobre Mudanças Climáticas (IPCC) da ONU, aponta que a estiagem que vem sendo observada não só no Brasil como em outros países, é resultado do aquecimento global, situação para a qual o desmatamento da Amazônia contribui significativamente.
O estudo do IPCC, divulgado em agosto, coloca a floresta na direção de um “ponto de ruptura”, sob ameaça de “uma transformação ecológica em larga escala”. Se nada for feito a tempo, as consequências para o planeta serão fatais.
Um artigo de autoria de especialistas em meio ambiente, publicado pela revista Communications Earth & Environment (Comunicações Terra e Meio Ambiente), aponta que o desmatamento na Amazônia, somente no Brasil, poderá aumentar o calor em regiões do país, fazendo temperaturas médias chegarem aos 34°.
O desmatamento no Brasil não é exclusivo da região amazônica. No Cerrado Brasileiro, bioma predominante na região central do país, entre agosto de 2020 e julho de 2021, 5.102 km² foram desmatados – 23% a mais do que no ano anterior.
Desta forma, em especial na região Norte, cerca de 11 milhões de pessoas seria impactadas por essas mudanças climáticas. As consequências serão graves para a saúde da população e para a própria economia e o mercado de trabalho.
De acordo com o secretário de Meio Ambiente da CUT, a crise climática é resultado do modelo econômico e de desenvolvimento e os impactos se dão nos mais diversos aspectos.
“Populações inteiras estão sendo obrigadas a migrar de seus territórios por causa de fatores como a seca extrema ou aumento dos níveis do mar. No campo impacta diretamente na produção de alimentos e por consequência no seu custo e acesso para a população”, diz Daniel Gaio
No mercado de trabalho, prossegue o secretário, o calor extremo prejudica trabalhadoras e trabalhadores cujas atividades acontecem ao ar livre, seja no campo ou nas cidades.
“O aumento do desmatamento é resultado do modelo agroexportador que se baseia na produção de commodities agrícolas que não alimentam a população brasileira e avança sobre os territórios”, diz Daniel Gaio, explicando que o motivo principal da derrubada de florestas e destruição de biomas como o cerrado é transformar essas áreas em grandes plantações dessas commodities, como a soja, por exemplo.
Neste contexto, a CUT luta por novos modelos de sustentabilidade que incluam a participação e o envolvimento de comunidades, trabalhadoras e trabalhadores rurais e urbanos, povos indígenas e comunidades tradicionais, que são os mais afetados pelas mudanças climáticas.
Transição justa
O tema transição justa, que se refere a esses novos modelos de sustentabilidade com preservação do meio ambiente, mas que tenham o olhar voltado às comunidades, aos trabalhadores, ou seja, ao ser humano e não apenas ao mercado, é tema da revista Diálogos Sobre a Transição Justa, produzida pela CUT, foi lançada nesta sexta-feira (18).
A publicação traz a experiência de um estado brasileiro, o Rio Grande do Norte, que nos últimos anos tem vivenciado um conjunto de mudanças expressivas no setor energético, que é fundamental na discussão sobre a transição para uma economia de baixo carbono.
“A transição justa tem sido a proposta prioritária do movimento sindical, que defende um conjunto de políticas destinadas a assegurar que a transição para a produção com baixas emissões de carbono garanta condições dignas de vida e de trabalho, respeite os direitos humanos e a igualdade de oportunidades para toda a classe trabalhadora e para as comunidades impactadas, assim como promova o trabalho decente nas novas atividades econômicas desenvolvidas”, diz trecho da apresentação da revista.