Soluções reais para a crise climática ficaram de fora da COP 26

A Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP 26), realizada em Glasgow, na Escócia, no último mês de novembro, reuniu quase 200 países em busca de soluções para a crise climática. O encontro terminou com acordos modestos e, ainda que fosse possível avançar em algumas questões relacionadas à implementação do Acordo de Paris, os resultados da Conferência estão muito distantes das necessidades urgentes que esta crise aponta, principalmente para aqueles países e populações que já sofrem as consequências das mudanças climáticas.

Questões chave como o financiamento por parte de países ricos para que os países em desenvolvimento consigam enfrentar e se adaptar à crise climática foi adiado mais uma vez. Por outro lado, mesmo sendo reconhecido os últimos dados do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas  (IPCC), que em agosto desse ano trouxe dados alarmantes sobre a urgência por aumento da ambição climática por parte dos países, as resoluções finais não trazem elementos suficientes para os países se comprometerem neste sentido.

Quem ganha com os acordos são aqueles que conseguem que não seja feita a mudança necessária. Neste caso, são as corporações e grupos que se beneficiam com o adiamento da ação climática. Nesta COP 26, a maior representação, se comparada com um país, foi a da indústria fóssil (petróleo e carvão, por exemplo) que levou mais de 500 lobistas para participar do espaço oficial da Conferência. Isto significa que estes grupos fizeram pressão para que as agendas do setor, principal responsável pelas emissões que geram a crise climática, se vissem o menos prejudicado possível durante as negociações. Apesar de ter sido histórica a inclusão da menção aos combustíveis fósseis no âmbito das negociações climáticas, nos últimos momentos para fechar a o documento final, vimos o texto mudar de “eliminar gradativamente” para “reduzir gradativamente”. Uma diferença importante, pois não se faz uma mudança efetiva.

Neste contexto, quem mais perde são os países do Sul Global, povos e comunidades tradicionais, a classe trabalhadora (em particular, as mulheres e a população negra), que sofrem com a inação dos líderes mundiais e a pressão das corporações frente à iminência de uma tragédia climática.

A transição energética é peça fundamental para o enfrentamento imediato às mudanças climáticas, mas ela precisa acontecer de forma justa e popular. Não é suficiente transformar o modelo energético para um modelo com menor emissão de carbono. Para o movimento sindical CUTista, a transição só será justa com a participação das trabalhadoras e trabalhadores  e a garantia dos direitos dos povos e comunidades tradicionais, dos direitos trabalhistas e contemplando a energia, água, as florestas e os demais bens comuns como direitos humanos fundamentais e colocando no centro a vida e o trabalho.

De outra maneira, será uma forma de perpetuar desigualdades e injustiças que são resultado do modelo neoliberal que nos levou à crise climática, social, econômica e sanitária que vivemos atualmente.

Por fim, é preciso avaliar a participação do governo brasileiro nesta COP. Mesmo com a ausência do Presidente da República na conferência, mais uma vez a participação foi baseada em mentiras. O Brasil tentou vender uma imagem diferente daquela que já estava consolidada internacionalmente do governo Bolsonaro como destruidor do meio ambiente.

O ministro Joaquim Leite negou que a Amazônia estivesse sendo devastada pelo desmatamento e incêndios, e aderiu a Acordos de Metano e o zerar o desmatamento até 2030 para tentar mostrar comprometimento. Porém, os dados sobre desmatamento divulgados em 18 de novembro e escondidos intencionalmente para a COP, confirmaram mais uma vez a verdadeira cara desse governo.

O governo brasileiro perdeu a credibilidade internacional. Mais uma vez o Brasil recebeu o prêmio “Fóssil do Dia”, criado por organizações da sociedade civil que acompanham as negociações como forma de colocar em evidência países que mais prejudicam a luta contra a crise climática.

Apesar de ser considerada uma das COPs mais desiguais e com participação restrita,  a presença da sociedade civil brasileira trouxe uma forte mensagem de resistência e levou um contraponto importante ao apresentado pelo governo brasileiro.

O movimento sindical e organizações sociais não veem avanços nem compromissos  suficientes por parte dos governos. Tornasse cada vez mais evidente que soluções reais para a mudança climática ficam de fora dos diálogos e negociações. Precisamos, portanto, de mudanças estruturais do modelo econômico, que refutem o produtivo, o consumismo e as gritantes e crescentes desigualdades sociais inerentes ao neoliberalismo. Para construir essa superação, além de incorporar urgentemente a agroecologia, a economia solidária, a desglobalização, temos que apontar nossas utopias à economia feminista e ao ecossocialismo.

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